Percival não aguentou a pressão, explodiu. Deixou fluir pelas cordas vocais, na forma de um brado bárbaro, todas as palavras reprimidas pelos mecanismos ponderadores do cérebro. Pensava demais e por demais pensar, continha a fala. E fala contida na cachola é como água na panela de pressão. Sem uma válvula de escape, explode. E Percival explodiu. Cansou das piadas pseudo intelectuais do Malvino. Cansou dos mexericos depreciativos da Armênia. Cansou do sádico despotismo do Junqueira. Cansou do desprezo, do descaso, do escárnio. Cansou-se de si, pôs-se para fora com a fúria incontida de uma ressaca marítima. Faltando cinquenta e dois minutos para o fim do expediente, Percival despiu-se de suas desculpas, de suas roupas, de seus medos. Nu, percorreu os corredores sob olhares espantados, risinhos e sussurros. Diante da sala de reuniões, deu as costas aos curiosos e defecou no carpete. Voltando-se para a multidão estarrecida, recolheu suas fezes com as mãos e as elevou às alturas, como um sacerdote em ato de oferenda, murmurou palavras que Creyton, o office-boy, jura ter ouvido: caguei para vocês. De braços abertos, como um artista que se prepara para o seu gran finale, lançou suas fezes aos quatro cantos do escritório. Faltando sete minutos para o fim do expediente, diante da movimentada avenida e enrolado na toalha que adornava a mesa do café, Percival chamou um taxi. Pra onde, chefia? Para Pasárgada, mas sem pressa…
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